quinta-feira, 23 de abril de 2009

Uma nova abordagem apologética


O dicionário "Aurélio século XXI" define apologia como: "Discurso para justificar, defender ou louvar.". No Novo Testamento, a palavra grega nos escritos neo-testamentarios para "responder" é apologia. Essa palavra aparece em I Pedro 3:15 - "antes santificai em vossos corações a Cristo como Senhor; e estai sempre preparados para responder com mansidão e temor a todo aquele que vos pedir a razão da esperança que há em vós".
Quase todas as epístolas foram escritas visando responder aos críticos da fé crista. Tanto dos de fora, como dos de dentro da própria igreja.
A apologética evangélica que nós herdamos, é do fim do século 19. E, porque ela se tornou anacrônica?

1) Não leva em consideração que o Cristianismo perdeu a hegemonia.
O cristianismo tornou-se uma entre tantas outras alternativas a serem escolhidas.
2) Adota uma estratégia de guerrilha.
Enxerga os sem igreja, e os descrentes como adversários, como inimigos, como um povo a ser conquistado ou derrotado.
Se alguém disser que não acredita na Bíblia é tratado como o anti-cristo. Se alguém diz que tem simpatia com o espiritismo é tratado como endemoninhado. Se alguém afirma que não acredita na criação e sim na evolução é tratado como um ateu desgraçado.
Nós não sabemos lidar com as pessoas que se aproximam de nós tendo um outro background.
3) Concentra grande parte do seu esforço apologético no que é periférico e não no que é fundamental.
Ao invés de aprofundar estes temas, muito da nossa apologia tem se prendido à tentativa de provar a localização da arca de Noé. Evocar provas fajutas da falta um dia no universo, porque Josué orou e o sol parou.
4) É desonesta em muitas das suas garantias.
Muitas das afirmações, muitas das garantias oferecidas de um modo generalizado para todas as pessoas são absolutamente desonestas. Quando vejo alguns pregadores eletrônicos afirmarem coisas do tipo: “venha para Cristo você vai parar de sofrer”... “venha para Cristo você será curado de todas as suas enfermidades”... “venha para Cristo você vai ganhar dinheiro”... “Deus fez você para ser cabeça e não cauda”...

Novas posturas apologéticas...
Agora, o fato de sermos uma igreja que entende o seu desafio missionário dentro da pós-modernidade, não quer dizer que estejamos apresentando um outro evangelho.
Nós não temos uma nova doutrina para apresentar. Nós não temos outros fundamentos para sustentar a nossa fé, a não os que já recebemos. O apóstolo Paulo escrevendo para Timóteo disse: “Tu, porém, permanece naquilo que aprendeste, e de que foste inteirado, sabendo de quem o tens aprendido, e que desde a tua meninice sabes as sagradas Escrituras, que podem fazer-te sábio para a salvação, pela fé que há em Cristo Jesus.” – 2 Timóteo 3:14-15.
Mas, apesar de não mexer nos fundamentos, nós precisamos ter uma outra postura, uma nova abordagem, uma nova maneira de tornar o evangelho mais acessível para a nossa geração.

1) Nós não oferecemos RESPOSTAS PRONTAS, nós oferecemos uma PERSPECTIVA DE FÉ.
No século XX sentíamos que a melhor que podíamos fazer pelas pessoas era oferecer as respostas mais precisas e detalhadas a respeito de Deus, Jesus, da Bíblia, e da vida espiritual. Achávamos que esta era a melhor apologética que tínhamos para oferecer.
Na velha apologética, agíamos como se tivéssemos respostas prontas para oferecer para as pessoas. Agíamos como se fôssemos matemáticos ensinando a fé como se fosse ciência e ciência exata.
Na nova apologética, nós não oferecemos respostas prontas. Nós oferecemos uma perspectiva de fé. Por que? Porque somente a fé nos oferece um contexto, onde os mistérios de Deus podem ser explorados.
Nós não oferecemos respostas precisas, como se fossem equações matemáticas. As pessoas tem dúvidas. As pessoas tem questionamentos. As pessoas tem perguntas. E o que é que nós oferecemos? Nós oferecemos um ambiente onde podemos trabalhar com suas perguntas, onde podemos vivenciar suas perguntas, explorar possíveis respostas e encontrar direção para o que fazer.
Eu não estou dizendo com isto que qualquer tipo de crença é válido. Não estou afirmando que todo tipo de fé é válida. Claro que não.
Nós precisamos deixar de lado aquela ingenuidade que acha que a vida é um problema a ser resolvido com respostas fáceis. Nós precisamos ser maduros o suficiente, a ponto de saber que por trás dos problemas da vida e dos aparentes paradoxos, a vida é, em seu cerne, um mistério a ser explorado. E não há como explorar o mistério da vida, sem a dimensão da fé.
Precisamos de uma nova apologética que nos ajudará a lidar e a viver mistérios extraordinários, como os mistérios da Criação, da Encarnação, da Trindade, da Salvação, do Espírito Santo e da Unidade Cristã. Precisamos nos aproximar desses mistérios com senso de reverência, humildade, dependência de Deus e com o coração cheio de fé.

2) Nós não nos prendemos ao que é PERIFÉRICO, mas nos concentramos no que é ESSENCIAL.
Nós precisamos aprender a refletir sobre temas que são fundamentais para a vida. Temas que realmente são relevantes. Temas que são essenciais para a construção de uma fé robusta, plena.
Não dá mais para ficar tendo de lidar com uma temática de alienação. Faça uma retrospectiva e tente se lembrar dos temas que ocuparam a nossa agenda nos últimos 10 ou 15 anos...
- Maldição hereditária; dente de ouro; mensagens subliminares; demônios territoriais; cair no espírito; unção do riso e outras...
Agora pense comigo, enquanto o vazio espiritual, a pobreza, a corrupção, as doenças, a fome, o analfabetismo estão engolindo as pessoas, solapando suas vidas, esta tem sido a agenda temática do povo que se chama evangélico em nosso país.
Que assuntos devem ocupar a nossa reflexão, quais os grandes temas sobre os quais nós precisamos nos debruçar, com oração e dependência de Deus? Temas como: Cuidado com o meio-ambiente; a prática da ética do Reino de Deus como ensinada por Jesus; o valor e a importância da mulher, a graça de Deus. O apóstolo Paulo alertou: “Fique longe das discussões tolas e sem valor, pois você sabe que elas sempre acabam em brigas.” – 2 Timóteo 2.23 (NTLH).

3) Nós mostramos muito mais QUEM NÓS ESTAMOS COMPROMETIDOS A SER do que em que nós cremos.
As pessoas não estão interessadas no que nós cremos, elas querem saber como é que nós vivemos. Elas não se deixam impressionar com a precisão da nossa argumentação, elas estão muito mais interessadas em saber em que tipo de pessoa você está comprometido a ser.
Elas querem saber como nós nos relacionamos com a nossa família; como lidamos com o poder; como lidamos com os nossos líderes; como lidamos com os bens.
A questão não é tanto se você tem uma conduta impecável. Todo mundo sabe que perfeição é impossível. A questão central é: em quem você está comprometido a ser? Em quem você está se tornando? O cristianismo deve se distinguir por sua relevância para a vida, e não apenas por sua racionalidade intrínseca. Pedro escrevendo aos crentes disse: “Tenham sempre a consciência limpa. Assim, quando vocês forem insultados, os que falarem mal da boa conduta de vocês como seguidores de Cristo ficarão envergonhados.” – 1 Pedro 3.14 (NTLH).
Antes de falar qualquer coisa, precisamos conquistar o direito de sermos ouvido.

4) Antes de tentar convencer as pessoas precisamos ter o compromisso de AMÁ-LAS.
Jesus não é um conquistador de consciências. Jesus é um conquistador de corações.
Eu acredito que nós precisamos mais do que uma abordagem meramente intelectual. Nós precisamos construir uma apologia mais abrangente, mais humana, mais cristã, O que eu estou realmente propondo é que trabalhemos para construir o que eu estou chamando de uma apologia relacional.

3 comentários:

Aurenil disse...

Uma das melhores mensagens que ja ouvi. Glórias ao nosso Deus! Orei para lhe de sabedoria abundante.
Grande abraço.

Danilo disse...

Ola Neuber!

Passei uns dias em niteroi e estive visitando a sua igreja. Estou voltando para minha cidade, mas a experiencia foi boa. Não sabia é que você tambem era blogueiro... Otima relexão. Se me permite vou programar para o Genizah, com links, claro.

Aproveitando, queria convidar você para conhecer o meu blog, o Genizah que horas é pirado e engraçado, horas é exaltado e sério, mas é super do bem e tem como regra levar o Evangelho da Liberdade Verdadeira e a Santa Subversão de Jesus ao mundo egocêntrico e perdido nos seus valores! E, ainda dando tempo, aproveito para tirar uma onda com este pessoal que anda explorando a fé das pessoas e ainda dizendo que são cristãos... Ops!

Por minha vez, já me tornei seu seguidor.

Abraços em Cristo e Paz!

Danilo

http://genizah-virtual.blogspot.com/

Gabriella Bontempo disse...

Oiiiii Neuber, quanto tempo!

Apologia cristã: Quantos ainda estão dispostos a tomar para si esta briga?

Bjoooo